São quatro os vírus causadores da dengue: sorotipos 1, 2, 3 e 4.
A infecção por um sorotipo confere imunidade duradoura contra ele, mas não protege contra os demais. A infecção sequencial por sorotipos diferentes aumenta o risco de formas graves da doença.
A gravidade está ligada ao comprometimento da função do endotélio, a camada que reveste a parte interna dos vasos sanguíneos. A infecção rompe o equilíbrio através do qual essa camada regula o tráfico de moléculas para dentro e para fora dos capilares.
Como consequência, a albumina e outras proteínas do sangue extravasam para os tecidos vizinhos (espaço extravascular), eventualmente causando queda de pressão e choque.
A maioria dos casos é assintomática. Quando presentes, os sintomas podem simular quadros gripais ou evoluir para complicações com risco de morte.
Tradicionalmente, quando há queda da pressão arterial, a dengue recebe o nome de hemorrágica, denominação imprópria, porque um doente pode entrar em choque sem sofrer hemorragia, enquanto outro apresenta sangramento sem alteração da pressão arterial.
Essa inadequação levou a OMS a propor a classificação da doença em duas categorias: dengue sem complicações e dengue grave, quando há extravasamento de plasma que leva ao choque, acúmulo de líquido na pleura ou no abdômen, sangramento grave ou falência de órgãos.
O período de incubação é de três a sete dias. Os sintomas se instalam de forma abrupta, com febre alta e calafrios.
A evolução compreende três fases: febril, crítica e de recuperação.
Na fase febril, picos que ultrapassam 38,5ºC são acompanhados de dor de cabeça (que começa atrás dos olhos), vômitos, dores nos músculos e articulações, e áreas de eritema na pele. Podem surgir hematomas e pontos hemorrágicos no corpo (petéquias). O hemograma mostra queda do número de glóbulos brancos e de plaquetas.
Essa fase dura três a sete dias, depois dos quais a maioria dos pacientes se recupera sem complicações.
A fase crítica surge quatro a sete dias depois do primeiro sintoma, durante o período de defervescência. É caracterizada pelo extravasamento de líquido e de proteínas para fora dos capilares, aumento da concentração dos glóbulos vermelhos no sangue, derrame pleural e ascite. Na tentativa de preservar a irrigação dos órgãos, o pulso fica mais acelerado e a frequência cardíaca aumenta.
O problema se agrava quando a pressão arterial cai, a circulação periférica entra em colapso e se instala o choque, que torna mandatória a internação em unidade de terapia intensiva.
Os sinais que permitem suspeitar da iminência de choque são: dores abdominais persistentes, vômitos, ascite, derrame pleural, sangramento nas mucosas, agitação e letargia.
Esse período crítico termina em 48 a 72 horas, com a reversão espontânea do extravasamento capilar e melhora do estado geral.
Na fase de recuperação, pode reaparecer na pele o eritema da fase febril, seguido de descamação. Pacientes adultos, eventualmente, se queixam de fadiga intensa com semanas de duração.
O diagnóstico é confirmado diretamente pela presença de componentes do vírus no sangue ou indiretamente pela identificação de anticorpos contra eles, detectáveis a partir do quarto dia de infecção.
Não existem medicamentos eficazes contra o vírus, embora haja alguns em fase de teste. O tratamento consiste em manter a hidratação e combater os sintomas com repouso, antieméticos e antitérmicos, como a dipirona.
Remédios que contém ácido acetilsalecílico jamais devem ser administrados, porque aumentam o risco de sangramento. Como muitos deles são populares é obrigatório conferir a bula.
Pacientes com dengue grave precisam ser internados para hidratação intravenosa, controles laboratoriais, administração de drogas para elevar a pressão, transfusões de sangue e outros cuidados intensivos capazes de reduzir a mortalidade dos casos mais graves para menos de 1%.
Não é possível acabar com a dengue, mas é vergonhoso conviver com índices de mortalidade altos como os nossos.
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